- Você pode ir embora, eu vou sozinha de ônibus. Esses daqui têm o piso baixinho, não têm degrau.
Essa é apenas a primeira parte, sempre que concordo em voltarmos de ônibus ela diz até passar o ponto daquela velha rua que "se a gente quiser dá pra descer logo ali e andar uns dois quarteirões só para comprar umas coisinhas, não anda muito, é rapidinho". Não é rapidinho, anda muito, as pernas não aguentam tanto, a volta para a casa é longa e ela dificilmente descansa quando chega porque "tem que fazer o serviço de casa". Descansar, de onde ela vem, é entregar os pontos, dizer que está muito ruim.
A beleza da rotina chega a doer quando ela se torna apenas uma lembrança distante, quando aquilo que era tão simples já não pode ser feito com a mesma facilidade, quando nos damos conta de que a vida muda. Sempre me pergunto o quão difícil é ter alguém o tempo todo ao nosso lado e ao mesmo tempo não ter; desejar a independência, mas também o cuidado; negociar com aqueles que antes apenas recebiam ordens. Sempre a imagino dizer:
"Às vezes tudo o que mais quero é subir em um ônibus e andar por aí, sozinha, voltar com muitas sacolas para a casa e umas coisinhas que a gente sempre precisa."
Isabela C. Santos
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