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Nem sempre

Quando tentou pela primeira vez e olhou o resultado logo pensou que poderia arrumar aquele simples detalhe e tudo ficaria maravilhoso, seria uma verdadeira superação, desde que aquele detalhe fosse corrigido.

Tentou pela segunda vez e se deu conta de um erro gravíssimo que faria com que todo o planejado não acontecesse. Azar! Teria de recomeçar, pois com certeza tudo ficaria melhor quando arrumasse o detalhe da primeira tentativa e garantisse os outros. Aliás, ela se quer havia pensado que todo o resto pudesse ser perdido.

Terceira tentativa, tudo deveria sair perfeito! Mas, ah... Que desastre ela encontrava a frente de seus olhos! Tudo estava pior do que a primeira tentativa e aparentemente bem pior do que a segunda poderia ter resultado! Uma verdadeira catástrofe. Bem, nem tanto. Aquele detalhe que ela tanto se esforçou para corrigir havia sido corrigido, mas não estava tudo perfeito. Todo o resto de que ela gostara tanto havia se perdido.

Reparou finalmente que o que ela tanto gostara no primeiro desenho havia sido os cabelos cheios e a camisa de bolinhas, mas com tanta atenção voltada a corrigir os olhos aumentou tanto o rosto que mal havia espaço para cabelos, embora os olhos estivessem corrigidos, isto é, com certa distância.

Ela estava frustrada e sem forças.

Observou os três desenhos de diversos ângulos, de nenhum o terceiro podia ser considerado algo bom. Aquele que estava feito no lado errado da folha até parecia bonito, por não estar finalizado, transmitia-lhe certa esperança.

Era tarde, o tempo havia passado durante todas as tentativas e ela estava cansada. Segurou o primeiro desenho, olhou-o por muito tempo e se deu conta de que gostava dele estranho bem do jeitinho que era, com a cirurgia plástica que dera errado (essa foi a desculpa que decidiu dar aos outros ao apresentar o desenho, sempre gostou de fazer outras pessoas rirem).

Por fim percebeu que podia tentar muitas vezes, mas o maior carinho sempre seria pelo primeiro desenho. Eram as sombras, o cabelo, a camisa e depois, até mesmo os olhos, que faziam com que ela gostasse tanto dele. Nada poderia ser corrigido sem perder todo o resto, ela não iria fazer um quarto desenho com tudo igual e os olhos certos. Concluiu que nem sempre ir até o fim ou tentar outra vez significa ter os melhores resultados.

Guardou o primeiro desenho sabendo que ele era único e ela jamais seria capaz de reproduzi-lo.




Isabela C. Santos

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