Mariana tinha consulta às 8hrs no dentista em um local que demoraria duas horas para chegar (considerando o trânsito, a boa vontade dos passarinhos, a direção do vento e os passos das formigas). Como de costume, Mariana havia anotado a data na agenda, criado um lembrete no celular, avisado a avó, a mãe, o pai (que faria aniversário no mesmo dia), o gato, o cachorro e a plantinha do quintal. Acontece que ter que acordar às 5hrs era um evento e conseguir seria um milagre.
Pensando no que poderia fazer quando chegasse em casa, Mariana partiu às 6hrs para o consultório do dentista. Viu o ponto lotado, encantou-se com a neblina, esperou na fila errada no terminal de ônibus, foi para o final da fila certa (ficava no limite com outra dimensão) esperou, esperou... Entrou no ônibus e ouvindo música começou a sorrir, feliz por tudo estar dando tão certo em sua vida, por mais que algumas coisas estivessem dando errado.
Mariana chegou 20mins antes da consulta. Sentiu-se orgulhosa, muitíssimo orgulhosa. Geralmente chegava no último minuto de tolerância (isso quando não esquecia a consulta, como fez outra vez, mas aí já é outra história). Pensou ter todo o tempo do mundo e resolveu fazer uma horinha, ir no banheiro, beber água. Finalmente foi para o balcão, cumprimentou a recepcionista sorridente com um animado bom dia e entregou o cartão de consultas, esperando ouvir a moça dizer "está bem, Mariana, pode sentar e esperar ser chamada". Mas nem sempre o que a gente espera é o que acontece, não? No lugar de dizer o que Mariana sempre ouvia a recepcionista lhe perguntou que dia era.
Tudo bem, aquela moça também deveria ter acordado cedo, as pessoas se confundem, não tem nada demais não saber em qual dia do mês estamos.
Mariana respondeu a recepcionista, disse-lhe que era dia 14. A moça olhou o cartão de consultas, o computador e disse, com aquela expressão de quem tenta esconder o riso, que a consulta de Mariana era dia 19, quarta-feira. Mariana agradeceu, afinal, tudo bem, as pessoas se confundem. Entrou no elevador desejando que ele funcionasse corretamente e não brincasse com seu medo como fizera outras vezes. Saiu do prédio, andou em direção à loja de presentes... Cedo demais, estava fechada. Uma senhora perguntou se ela estava perdida, Mariana respondeu que não e agradeceu, sorrindo logo em seguida (ela sempre achou senhoras simpáticas uma graça). Sem escolha e sem estresse Mariana segue seu rumo, pensa se vai ler ou dormir, ler e dormir, dormir e comer... São tantas opções!
Mariana acordou cedo, chegou em bom horário... A única coisa que errou foi o dia, pequeno detalhe. Talvez fosse uma boa ideia olhar o cartão de consultas antes de sair de casa. Deixa, a vida é assim mesmo, a gente se confunde.
Isabela C. Santos
Comentários
Adorei sua cronica!